sábado, 6 de julho de 2013

A caçada sem precedendes a Edward Snowden....

Os EUA estão aplicando uma pressão talvez sem precedentes para tentar repatriar Edward Snowden, o ex-funcionário da CIA que vazou dados sobre programas secretos de espionagem do governo americano.

Anteontem, Washington convenceu Espanha, França, Itália e Portugal a negar autorização de sobrevoo para o avião do presidente boliviano Evo Morales. Na prática, isso forçou o avião a pousar, ao fechar o espaço aéreo do voo. Então, a Áustria vasculhou o avião em busca de Snowden. O governo austríaco diz que Morales autorizou a busca. O boliviano nega. O avião presidencial tem imunidade diplomática e revistá-lo viola convenções internacionais.

Questionado, o premiê espanhol, Mariano Rajoy, desconversou e disse que o importante era que Snowden não estava a bordo. Não, o importante é que o presidente eleito de um país foi retido. Rajoy e os demais países europeus teriam feito isso com o avião presidencial brasileiro ou chinês? Possivelmente não, mas era a Bolívia.

Na semana passada, Snowden negociava asilo político no Equador. O governo equatoriano denunciou que estava sofrendo forte pressão dos EUA, que ameaçavam com a retirada de benefícios tarifários a produtos equatorianos. De repente, o Equador voltou atrás e encerrou as negociações com Snowden. Na sexta-feira, o presidente Rafael Correa teve uma conversa telefônica, aparentemente decisiva, com o vice-presidente dos EUA, Joe Biden. O jornal "The Washington Post" sugere um misto de pressão e concessões dos EUA para tirar o Equador da parada.

Com a reviravolta, Snowden pediu asilo à Rússia. O presidente Vladimir Putin impôs uma condição: que Snowden parasse de causar problemas para os EUA, "por mais estranho que isso possa soar saindo dos meus lábios", ironizou. E logo acrescentou que Snowden não parecia disposto a aceitar, o que soou como um não russo. O americano sondou então 21 países sobre possível asilo. Quase todos, inclusive o Brasil, negaram publicamente. Ninguém ainda aceitou.

Essa é talvez a maior caçada a um fugitivo jamais feita. Para isso, Washington está aparentemente usando todo o seu arsenal de argumentos. Quase todos os países entenderam o recado: essa questão é prioritária para os americanos e quem se interpuser sofrerá consequências. Nem chineses nem russos quiseram comprar essa briga.

Por que a caçada? Sob a ótica da razão de Estado, faz sentido os EUA perseguirem e punirem exemplarmente Snowden, para dissuadir novos vazamentos. Ainda mais agora que mais de cinco milhões de pessoas (a maioria funcionários de empresas terceirizadas) têm acesso a dados sigilosos nos EUA.

Ainda assim, a pressão parece desproporcional. Washington causou grande constrangimento aos governos europeus no caso do avião de Morales, justamente aqueles governos que um dia antes se diziam indignados pela divulgação (dados de Snowden) de que seus líderes e diplomatas tinham siso grampeados pelos EUA. A retenção de Morales gerou furor nos países sul-americanos.

Por que essa pressão inusitada?

As revelações de Snowden estão causando um estrago gigantesco à imagem interna e externa do governo do presidente Barack Obama. Mas esse dano já está feito. A não ser que Snowden tenha muito mais a revelar, que possa causar dano ainda maior. Essa é a suspeita que vai pesar sobre Washington.

Fonte:

https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2013/7/4/o-enigma-da-cacada-sem-precedentes-a-snowden

Autor(es): Por Humberto Saccomandi | De São Paulo

Valor Econômico - 04/07/2013

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