A nossa educação não anda muito bem das pernas. Atualmente 95% dos nossos alunos saem do ensino médio sem conhecimentos básicos em matemática, quase 40% dos universitários são analfabetos funcionais e 78,5% dos estudantes brasileiros finalizam o ensino médio sem conhecimentos adequados em língua portuguesa.
Em resumo: enfiamos mais de 42 milhões de crianças e adolescentes em escolas públicas, a um custo nababesco, mas ensinamos muito pouco.
E as notícias ruins não terminam por aí. Segundo dados do Prova Brasil, 55% dos professores brasileiros dizem possuir pouco contato com a leitura. Além disso, uma pesquisa feita pela OCDE aponta que eles perdem, em média, 20% das suas aulas lidando com bagunça em sala de aula. Por fim, segundo o Núcleo Brasileiro de Estágio (Nube),
quatro em cada dez universitários são barrados em seleções para estágio
por causa de erros de ortografia – os estudantes de Pedagogia lideram
entre os piores índices.
Não
bastasse o claro fracasso na escola como instituição de ensino, não
raramente ela é usada como instrumento para doutrinação ideológica. De
acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Sensus, 78% dos professores
brasileiros acreditam que a principal missão das escolas é “formar
cidadãos” (apenas 8% apontou a opção “ensinar as matérias”) e 61% dos
pais acham “normal” que os professores façam proselitismo ideológico em
sala de aula.
Evidentemente
essa não é uma prática assinada por todos os docentes – e seria chover
no molhado apontar aqui que parte considerável dos nossos professores
atuam na melhor das intenções, quando não são vítimas de material
didático de péssimo gosto. Mas, ainda assim, a doutrinação atua como uma
praga numa lavoura, corrompendo a formação intelectual de incontáveis
estudantes e interferindo negativamente no ambiente de trabalho dos
docentes.
Para combater a prática, o advogado Miguel Nagib criou a organização Escola Sem Partido,
“uma iniciativa conjunta de estudantes e pais preocupados com o grau de
contaminação político-ideológica das escolas brasileiras, em todos os
níveis: do ensino básico ao superior”. A organização promove o debate e
denuncia práticas de doutrinação em sala de aula. Em sua página é
possível encontrar inúmeros exemplos de uso eleitoreiro e político nos
livros didáticos brasileiros, propaganda ideológica em instituições de
ensino, professores-militantes, entre outras aberrações presentes na
nossa educação.
Aqui, 5 exemplos de como a doutrinação atua nas salas de aula do país.
1) O livro de história mais vendido do país não é um livro de história.
O nome dele é Mario Furley Schmidt
e ele é o responsável por um dos capítulos mais obscuros da história da
educação no país. Mario é considerado o autor que mais vendeu livros de
História no Brasil. Sua coleção, Nova História Crítica vendeu mais de 10 milhões de exemplares e foi lida por mais de 30 milhões de estudantes.
Só tem um problema – Mario Schmidt não é historiador e sua obra não
passa de mero panfleto marxista. Por receber 10% do preço de cada livro
vendido, porém, Schmidt ficou milionário da noite para o dia.
A Nova História Crítica foi recomendada pelo Ministério da Educação. Na compra feita pelo MEC em 2005, o livro representava 30% –
a maior parte – do total de livros de história escolhidos. Segundo o
editor da Nova Geração, Arnaldo Saraiva, a obra “é o maior sucesso do
mercado editorial didático dos últimos 500 anos”. Na coleção, feita
para alunos de 5ª a 8ª séries, Schmidt faz contundentes elogios ao
regime cubano, afirma que a propriedade privada aumenta o egoísmo,
critica o acúmulo de capital e faz apologia ao Movimento dos Sem-Terra
(MST). Além disso, trata Mao Tsé-Tung como um “grande estadista e
comandante militar”. Por toda obra, o capitalismo e o socialismo são
confrontados com informações maniqueístas, distorções bizarras, erros
teóricos primários e releituras descompromissadas de qualquer apreço
histórico.
2) Que tal pagar por um Centro de Difusão do Comunismo?
Sim, isso mesmo que você leu. Aconteceu na Universidade Federal de Ouro Preto. Vinculado ao curso de Serviço Social, o Centro de Difusão do Comunismo,
sob a coordenação do professor André Luiz Monteiro Mayer, desenvolveu
dois projetos de extensão: a Equipe Rosa Luxemburgo (um grupo “de Debate
e Militância Política Anticapitalista”) e a Liga dos Comunistas
(“núcleo de estudo e pesquisa sobre o movimento do real, referenciado à
teoria social de Marx e à tradição marxista”). Não se engane: aqui não
se trata de um centro destinado a estudar teoria e história do
comunismo. Só há um único propósito no Centro de Difusão do Comunismo –
como diz o seu nome, difundi-lo. E com dinheiro público.
O centro
foi impedido de atuação por um juiz da 5ª Vara da Justiça Federal do
Maranhão, José Carlos do Vale Madeira. De acordo com ele, a
administração “não pode disponibilizar bens públicos para a difusão de
doutrinas político-partidárias por mais relevantes que sejam
historicamente”.
3) Nos livros aprovados pelo MEC, palmas para Lula, vaias para FHC.
Deu na Folha:
Livros
didáticos aprovados pelo MEC (Ministério da Educação) para alunos do
ensino fundamental trazem críticas ao governo Fernando Henrique Cardoso
(PSDB) e elogios à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Uma das
exigências do MEC para aprovar os livros é que não haja doutrinação
política nas obras utilizadas.
O livro
“História e Vida Integrada”, por exemplo, enumera problemas do governo
FHC (1995-2002), como crise cambial e apagão, e traz críticas às
privatizações. Já o item “Tudo pela
reeleição” cita denúncias de compra de votos no Congresso para a
aprovação da emenda que permitiu a recondução do tucano à Presidência. O
fim da gestão FHC aparece no tópico “Um projeto não concluído”, que
lista dados negativos do governo tucano. Por fim, diz que “um aspecto
pode ser levantado como positivo”, citando melhorias na educação e a Lei
de Responsabilidade Fiscal.
Já em
relação ao governo Lula (2003-2010), o livro cita a “festa popular” da
posse e diz que o petista “inovou no estilo de governar” ao criar o
Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. O escândalo do mensalão é citado ao lado de uma série de dados positivos.
Ao
explicar a eleição de FHC, o livro “História em Documentos” afirma que
foi resultado do sucesso do Plano Real e acrescenta: “Mas decorreu
também da aliança do presidente com políticos conservadores das elites”.
Um quadro explica o papel dos aliados do tucano na sustentação da
ditadura militar. Quando o assunto é o governo Lula, a autora – que à Folha disse
ter sido imparcial – inicia com a luta do PT contra a ditadura e apenas
cita que o partido fez “concessões” ao fazer “alianças com partidos
adversários”.
Em dois
livros aprovados pelo MEC, só há espaço para as críticas à política de
privatizações promovida por FHC, sem contrabalançar com os argumentos do
governo.
O
professor Claudino Piletti, coautor do livro “História e Vida
Integrada”, da editora Ática, concorda que sua obra é mais favorável ao
governo Lula. “Não tem o que contestar”, afirmou.
Ele disse
que é responsável pela parte de história geral da obra e que a história
do Brasil ficou a cargo de seu irmão, Nelson Piletti, que está na Itália
e não foi encontrado pela reportagem. À Folha Claudino disse que critica o irmão pela tendência pró-Lula e vai tentar convencê-lo a mudar a obra.
“Não dá
para ser objetivo. O professor de história tem suas preferências, coloca
sua maneira de pensar. Realmente ele [Nelson] tem esse aspecto,
tradicionalmente foi ligado à esquerda e ao PT”, afirmou Claudino.
4) Nem os livros de Língua Portuguesa fogem da propaganda ideológica.
Num país
onde 78,5% dos estudantes brasileiros finalizam o ensino médio sem
conhecimentos adequados em língua portuguesa e quase 40% dos
universitários são analfabetos funcionais, nem os livros de Língua
Portuguesa escapam da propaganda ideológica. Lula e Fidel Castro
ilustram conteúdos em dois livros didáticos de Língua Portuguesa para o
Ensino Fundamental. Lula estampa o conteúdo de “expressão oral” em livro
para o 6º ano (27447C0L01; atende crianças de 11 a 12 anos) e Fidel, o
conteúdo de “reconstrução dos sentidos do texto” em livro para o 9º ano
(27484C0L01, atende adolescentes de 14 e 15 anos).
Os livros
de Língua Portuguesa fazem parte do catálogo do Plano Nacional do Livro
Didático (PNLD), do Ministério da Educação, para o triênio 2014/16. Eles
foram distribuídos para escolas públicas ligadas aos governos federal,
distrital, estaduais e municipais.
Outro
livro didático de Língua Portuguesa para o 6º ano do Ensino Fundamental
(que faz parte do catálogo do Plano Nacional do Livro Didático, sob o nº
27484C0L01) usa uma charge para comparar a capacidade de decisão da
presidente Dilma Rousseff com seus adversários políticos Marina Silva e
José Serra. Como tarefa, o aluno é orientado a manter-se bem informado
sobre o tema que pretende defender – “é preciso ter opinião”, diz a
chamada.
5) Propaganda ideológica num livro de… Educação Física?
Pois é,
nem os livros de Educação Física escapam. Ao menos não o Livro Didático
de Educação Física para o Ensino Médio do Estado do Paraná. No terceiro
capítulo da disciplina, chamado “Faço esporte ou sou usado pelo
esporte?”, o livro didático público recorre ao esporte e à televisão
para afirmar que ambos sofrem influência do sistema capitalista para
explorar e dominar as massas, impondo suas idéias políticas e
filosóficas.
“Regras: é
preciso respeitá-las para sermos bons esportistas. Em nossa sociedade,
devemos ser submissos às regras impostas pela classe dominante. Em nosso
convívio social, devemos respeitar nossos colegas (…), contribuindo com
o êxito da equipe ‘de trabalho’, isso quer dizer ‘enriquecer cada vez
mais os patrões’”, diz o livro.
“O texto é
declaradamente marxista, um emaranhado de sofismas, tendencioso do
começo ao fim. A prática esportiva é secundária, o que importa é fazer a
revolução gramsciana”, diz o advogado Miguel Nagib, presidente da
organização Escola Sem Partido. Como relata o Gazeta do Povo, que entrevistou Nagib:
“Ao falar
da “potencialidade transformadora” do ensino da Educação Física, o autor
deixa claro que pretende usar a disciplina para fazer dos alunos
“agentes de transformação social”. A técnica usada para levar os alunos a
exercer o chamado “pensamento crítico” – que nunca é crítico em relação
às atrocidades cometidas nos regimes comunistas – não é a da
demonstração racional, mas a da insinuação maldosa. “O texto é repleto
de perguntas retóricas, suspeitas, que induzem o estudante a fazer uma
determinada abordagem do problema.”
Para escrever seu livro de esporte com críticas ao capitalismo, Gilson José Caetano, formado em Educação Física, diz ter
escolhido “um recorte baseado no materialismo histórico dialético”. Ele
afirma que o marxismo seria a base teórica de consenso entre os
professores que criaram as diretrizes da Secretaria de Educação do
Paraná.
Nem a prática esportiva escapa do proselitismo ideológico. E é você, claro, quem banca tudo isso.
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