Lembrai, lembrai, o cinco de novembro A pólvora, a traição e o ardil... por isso não vejo porque esquecer uma traição de pólvora tão vil!
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
A guerra secreta que acontece na Ucrânia...
O contexto: O jogo de xadres geopolitico da Ucrânia...
Se se ouve Poroshenko há alguns dias e, na sequência, se se ouve Obama na Assembleia Geral da ONU, não há dúvida possível: o Império Anglo-sionista está em guerra contra a Rússia. Mas para muitos a resposta russa a essa realidade tem sido inadequada. E há também fluxo sustentado de acusações contra Putin sobre políticas para enfrentar a crise na Ucrânia.
Nesse postado, proponho-me a oferecer alguns lembretes básicos sobre Putin, suas obrigações e suas opções.
Em primeiro lugar e mais importante, Putin não foi eleito para a função de policial global ou salvador do mundo: só foi eleito para presidir a Rússia. Parece óbvio, mas muitos parecem assumir que, de algum modo, Putin estaria moralmente obrigado a fazer algo para proteger a Síria, a Novorússia ou qualquer outra região desse nosso atormentado mundo. Nada disso.
Sim, é verdade que a Rússia é o líder de facto dos países BRICS e da Organização de Cooperação de Xangai, e a Rússia aceita esse fato, mas Putin tem o dever legal e moral de cuidar, primeiro, do povo russo.
Em segundo lugar, a Rússia está hoje oficialmente sob a mira do Império Anglo-Sionista, que inclui, não só três países nuclearizados (EUA, Reino Unido e França), como também a mais poderosa força militar do planeta (EUA+OTAN) e as maiores economias do mundo (EUA+União Europeia). Acho que todos concordamos que a ameaça gerada por esse império anglo-sionista não é ameaça trivial; e que a Rússia acerta ao lidar muito cuidadosamente com ela.
Mirar Putin e errar o alvo
Agora, estranhamente, muitos dos que acusam Putin de ser tímido e lento, ou traidor ou Pollyanna ingênua, também esbravejam que o ocidente está preparando guerra nuclear contra a Rússia. Se é realmente o caso, é preciso perguntar: se há risco real de guerra, nuclear ou não, Putin não estará fazendo a coisa certa ao não agir de modo intransigente ou ameaçador? Alguns dirão que o Ocidente irá à guerra, faça Putin o que fizer. OK, é bem possível; mas, nesse caso, ganhar o maior tempo possível antes que o inevitável aconteça não será, precisamente, a coisa mais certa a fazer?!
Em terceiro lugar, sobre a questão dos EUA versus ISIL, muitos comentários aqui nesta webpage acusaram Putin de ter apunhalado Assad pelas costas, porque a Rússia apoiou a proposta dos EUA no Conselho de Segurança da ONU.
E o que Putin deveria ter feito?! Mandar a Força Aérea russa para a Síria, defender a fronteira síria? E Assad? Por acaso despachou sua própria Força Aérea para deter os EUA, ou calmamente propôs um acordo: bombardeiem “eles”, não nós; e me comprometo a protestar, mas não fazer coisa alguma contra vocês? Bem obviamente escolheu essa segunda via.
De fato, Putin e Assad têm exatamente a mesma posição: protestar contra o caráter unilateral dos ataques; exigir Resolução na ONU; e, assistir com calma ao Tio Sam atirar contra suas próprias criaturas e, agora, tentar destruí-las.
Eu ainda acrescentaria que Lavrov já disse, com extrema lógica, que ali não há “bons terroristas”. Ele sabe que o ISIS/ISIL nada é além de uma continuação da insurgência síria que os EUA criaram, ela própria uma continuação da al-Qaeda, que os EUA também criaram. De um ponto de vista russo, a escolha é simples: o que é melhor, que os EUA usem suas forças e homens para matar os doidos wahabistas, ou ser Assad a ter de matá-los? E se o ISIS/ISIL for bem sucedido no Iraque, quanto tempo demorará até que voltem à Chechênia? Ou à Crimeia? Ou ao Tartarstão? Por que arriscar a vida de soldados russos ou sírios, se lá está a Força Aérea dos EUA, tão disposta fazer o serviço, por nós?
Há uma doce ironia no fato de que os EUA tenham agora de bombardear sua própria criatura; que bombardeiem. Assad foi avisado, embora não formalmente nem pela via e da forma legal, e obviamente nada tem contra os ataques contra o ISIS/ISIL.
Finalmente, com ONU ou sem ONU, os EUA já tomaram a decisão de bombardear o ISIS/ISIL. Que sentido teria bloquear uma Resolução da ONU que nada tinha de errado? Seria autoderrotar-se. De fato, essa Resolução pode até ser usada pela Rússia para impedir que EUA e Reino Unido sirvam como base de retaguarda para extremistas wahabista (a Resolução proíbe, e é Resolução cogente, nos termos do Capítulo VII, do Conselho de Segurança da ONU).
Pois mesmo com tudo isso, alguns ainda dizem que Putin jogou Assad debaixo do ônibus. É preciso ser doido ou estúpido, para supor que guerra e política funcionem desse modo, mas, se Putin quisesse jogar Assad debaixo do ônibus, por que não fez isso, no ano passado?
[...]
De fato, entendo que haja três fenômenos bem diferentes que se manifestam todos ao mesmo tempo:
1) Uma campanha organizada para insultar e desqualificar Putin, iniciada por ramos dos governos de EUA e Reino Unido cuja missão é manipular a opinião pública pela imprensa-empresa em geral.
2) Um movimento espontâneo para insultar e desqualificar Putin, conduzida por círculos nacionais-bolcheviques russos (Limonov, Dugin & Co.).
3) A expressão de sinceros incômodo, irritação e frustração, por gente bem intencionada, para quem a atual posição da Rússia realmente não faz sentido algum.
O restante desse postado será inteiramente dedicado a tentar explicar a posição da Rússia a quem se enquadre nesse 3º grupo (não há diálogo racional possível com os grupos 1 e 2 acima).
Tentando entender uma política aparentemente ilógica
Na introdução acima, eu disse que o que já se vê é guerra contra a Rússia, não é (ainda?) guerra quente, mas tampouco é guerra ao estilo da velha Guerra Fria. Essencialmente, o que os anglo-sionistas estão fazendo é bem claro e vários comentaristas russos chegaram a essa conclusão: os EUA estão em guerra contra a Rússia, razão pela qual lutarão até o último ucraniano.
Assim sendo, do ponto de vista do Império, nenhum “sucesso” será jamais definido em disputa que tenha a ver com a Ucrânia, porque, como já disse, não é a Ucrânia que está em disputa nessa guerra (não é guerra pela Ucrânia). Para o Império, “sucesso” só haverá quando o Império alcançar um específico resultado na Rússia: uma mudança de regime. Examinemos como o Império planeja alcançar esse resultado.
O plano original era simplório, típico do modo como os neoconservadores norte-americanos planejam seus golpes: derrubar Yanukovich; meter a Ucrânia na União Europeia e na OTAN; mover politicamente a fronteira da OTAN até a fronteira russa; e, militarmente, entrar na Crimeia. Esse plano fracassou. A Rússia aceitou a reincorporação da Crimeia na Federação Russa, e a Ucrânia colapsou numa terrível guerra civil acoplada a crise econômica terminal. Os neoconservadores dos EUA ficaram com o Plano B.
O Plano B também era simplório: empurrar a Rússia para intervenção militar no Donbass; e usar a intervenção resultante como pretexto para uma Guerra-Fria versão 2, com tensões ao estilo dos anos 1950s entre Leste e Oeste, políticas de indução ao medo em todo o ocidente; e rompimento total de todos os contatos comerciais entre Rússia e União Europeia. Ruim foi que esse plano também falhou.
A Rússia não mordeu a isca e, em vez de intervir diretamente no Donbass, iniciou massiva operação clandestina de apoio a forças antinazistas na Novorússia. O plano russo, sim, funcionou; e as Forças de Repressão da Junta (FRJ) neonazista em Kiev foram fragorosamente derrotadas pelas Forças Armadas da Novorrússia (FAN), apesar de as forças novorussas, no início, sofrerem de grave inferioridade de poder de fogo, equipamento, especialistas e soldados (gradualmente, a ajuda não oficial dos russos inverteu essa correlação de forças).
Nesse momento, a plutocracia anglo-sionista realmente enlouqueceu, no momento em que percebeu que seu plano caía em cacos e que nada havia que pudesse ser feito para resgatá-lo (uma opção militar era totalmente impossível, como já expliquei). Tentaram sanções econômicas, mas elas só conseguiram empurrar Putin na direção de reformas já necessárias há muito tempo. Mas o pior de tudo foi ver que, cada vez que o ocidente esperava que Putin fizesse algo, ele fazia exatamente o contrário:
Ninguém esperava que Putin usasse força militar na Crimeia; ele usou, em operação-relâmpago que já entrou para a história como, no mínimo, tão excelentemente concebida e executada quanto a operação Storm-333.
Todo mundo (inclusive eu) esperava que Putin enviasse forças para a Novorússia. Ele não enviou.
Ninguém esperava que contrassanções russas ferissem tão duramente o setor agrícola da União Europeia.
Todo mundo esperava que Putin retaliasse depois da mais recente rodada de sanções. Ele não retaliou.
Aqui se vê um padrão, que é básico em todas as artes marciais:
primeiro, jamais deixe ver suas intenções;
segundo, sirva-se de ardis e negaças; e
terceiro, ataque onde o adversário não preveja que será atacado.
Simultaneamente, há duas coisas profundamente inseridas na mentalidade política ocidental, que Putin jamais faz: ele jamais ameaça e jamais se exibe diferente do que é. Por exemplo, no mesmo momento em que os EUA já fazem guerra contra a Rússia, a Rússia não pensa duas vezes para votar a favor da resolução que os EUA propuseram sobre o ISIS/ISIL; se a resolução interessa à Rússia, ela não obstrui. Os diplomatas russos continuarão a falar de “nossos parceiros norte-americanos” e de “nossos amigos norte-americanos”, exatamente ao mesmo tempo em que estarão fazendo mais que todo o resto do planeta somado, para derrubar o Império Anglo-Sionista.
Rápida passada de olhos no currículo de Putin
Como já escrevi, diferente de outros blogueiros e comentaristas, não sou nem adivinho nem profeta, e não posso saber o que Putin pensa ou o que fará amanhã. Mas posso, sim, dizer o que Putin fez no passado (não necessariamente na ordem da lista abaixo):
Quebrou a espinha dorsal da oligarquia russa apoiada pelos anglo-sionistas;
Alcançou sucesso realmente miraculoso na Chechênia (que ninguém, nem os adivinhos nem os profetas, previram).
Literalmente conseguiu a ressurreição da economia russa.
Reconstruiu as forças militares, de segurança e da inteligência da Rússia.
Reduziu muitíssimo a capacidade de Organizações Não Governamentais (ONGs) mantidas por interesses estrangeiros, promover subversão na Rússia.
Fez mais pela des-dolarização do planeta que qualquer outro governante antes dele.
Pôs a Rússia na liderança dos dois grupos: BRICS e Organização de Cooperação de Xangai.
Desafiou abertamente o monopólio informacional da máquina de propaganda que é a imprensa-empresa ocidental (com projetos como RussiaToday).
Fez parar um ataque iminente de EUA/OTAN contra a Síria, enviando para lá uma Força Expedicionária da Marinha Russa (o que garantiu à Síria cobertura por radar de absolutamente toda a região).
Tornou possível, para o presidente Assad, assumir o controle, na guerra civil síria.
Rejeitou abertamente o “modelo civilizacional universal” e declarou seu apoio a outro, um modelo baseado na religião e na tradição.
Rejeitou abertamente uma “Nova Ordem Mundial” unipolar e comandada pelos anglo-sionistas, e declarou seu apoio a uma ordem mundial multipolar.
Apoiou Assange (através de RussiaToday) e garantiu proteção a Snowden.
Criou e promoveu um novo modelo de aliança entre o Cristianismo e o Islã, pondo abaixo, com isso, o paradigma do “choque de civilizações”.
Chutou os anglo-sionistas para fora de locações chaves no Cáucaso (Chechênia, Ossetia).
Chutou os anglo-sionistas para fora de locações chaves na Ásia Central (base de Manas no Quirguistão).
Deu à Rússia os meios para defender seus interesses na região Ártica, inclusive meios militares.
Estabeleceu uma aliança estratégica de pleno espectro com a China, que é o coração dos BRICS e da Organização de Cooperação de Xangai.
Está agora construindo e fazendo aprovar leis que impedem que interesses estrangeiros controlem a imprensa-empresa na Rússia.
Deu ao Irã os meios para desenvolver um muito necessário programa nuclear para finalidades civis.
Está trabalhando com a China para criar um sistema financeiro completamente separado do atualmente existente, que é controlado pelo Império Anglo-Sionista (incluindo o comércio em rublos ou renminbi).
Re-estabeleceu o apoio político e econômico da Rússia para Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador, Brasil, Nicarágua e Argentina.
Esvaziou muito efetivamente a “revolução colorida” pró-EUA na Rússia.
Organizou o “Voentorg” (caminho pelo qual foi possível armar as Forças Armadas da Novorússia).
Garantiu refúgio a centenas de milhares de refugiados ucranianos.
Enviou e fez chegar ao destino a ajuda humanitária de que a Novorússia precisava vitalmente.
Proveu suporte de fogo russo direto e, talvez, também cobertura aérea às Forças Armadas da Novorússia em locações cruciais (no “caldeirão sul”, por exemplo).
Por fim, mas não menos importante, falou abertamente sobre a necessidade de a Rússia se “soberanizar” e impor-se contra a 5ª coluna pró-EUA...
(...) e a lista continua e continua. O que estou querendo ilustrar é que há muitas e fortes razões para o ódio que Putin inspira ao Império Anglo-Sionista: é uma longa folha de serviços prestados, de luta efetiva e bem-sucedida contra, precisamente, o Império Anglo-Sionista.
Assim sendo, a menos que assumamos que Putin tenha sofrido alguma transmutação profunda, ou que perdeu completamente ou a energia ou a coragem, parece-me absolutamente irracional qualquer noção de que teria invertido a direção de tudo que fez ao longo de toda a vida. É preciso tentar explicá-las, mas, como tentarei a seguir, todas as atuais políticas de Putin fazem completo (e o mesmo) sentido de todos os seus feitos e ações acima listados.
Se você é do grupo dos “Putin-traiu-a-Novorússia”, por favor suspenda sua crença por um instante e, só para que seja possível argumentar, assumamos que Putin age por princípios e logicamente. O que, afinal, ele poderia estar fazendo na Ucrânia? Que sentido se pode extrair do que se observa?
Imperativos que a Rússia não pode ignorar
Considero indiscutível a sequência seguinte:
Primeiro, a Rússia tem de vencer a guerra em curso que o Império Anglo-Sionista faz contra ela. O que o Império quer ver é mudança de regime na Rússia, seguida de completa absorção do país na esfera ocidental de influência com, muito provavelmente, a pulverização da Rússia. O que está sob ameaça é a própria existência da civilização russa.
Segundo, a Rússia jamais estará segura, se houver um regime neonazista russofóbico no poder em Kiev. Os doidos nacionalistas Ukies já provaram que é impossível negociar com eles (desrespeitaram literalmente todos os acordos assinados até agora); odeiam a Rússia com ódio total (como se comprova nas repetidas referências ao uso de – hipotéticas – armas atômicas contra a Rússia). Assim sendo:
Terceiro, mudança de regime em Kiev, seguida de total des-nazificação, é a única maneira possível de a Rússia alcançar seus objetivos vitais.
Mais uma vez, e mesmo correndo o risco de minhas palavras serem distorcidas e desvirtuadas, tenho de repetir aqui que não é a Novorússia que está em jogo aqui. Não se trata, sequer, do futuro da Ucrânia. O que está em jogo aqui é um confronto planetário (é a tese de [Aleksander] Dugin [1] com a qual concordo integralmente).
O futuro do planeta depende da capacidade de os países BRICS/OCX substituírem o Império Anglo-Sionista por outra ordem internacional multipolar, muito diferente da atual. A Rússia é crucial e indispensável nesse esforço (qualquer esforço desse tipo, sem a Rússia, está condenado a fracassar); e o futuro da Rússia está sendo decidido agora, pelo que a Rússia venha a fazer na Ucrânia.
Fonte:
http://www.vineyardsaker.de/
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