terça-feira, 18 de agosto de 2015

Venezuela e Guiana a beira da guerra...


Pouco acima da fronteira brasileira, bem no topo do mapa, uma tensão vai ganhando vulto e provoca reflexões no extremo norte da América do Sul.
Em meio a uma crise profunda e próxima das eleições legislativas nas quais a oposição tende a desbancar o chavismo, subiu o tom com a Guiana.


O tema, controverso, remonta ao final do século 19, quando a fronteira entre os dois países foi delimitada. O governo venezuelano tem mostrado interesse nunca antes visto pela região conhecida como Essequibo, que representa cerca de três quartos da Guiana.
A investida venezuelana coincide com um momento de forte crise interna e instabilidade. O desabastecimento é superior a 30% dos produtos essenciais. A inflação está roçando nos 100% anuais, e a criminalidade está disseminada.


O tema se torna mais relevante, em termos geopolíticos, em razão da recente descoberta, pela Exxon Mobil, de uma importante reserva de petróleo na área. Haveria a projeção, por parte da Exxon, de explorar 159.500 quilômetros quadrados em terra e mar. E aí entra a questão: a soberania da região é reivindicada por Guiana e Venezuela.
A pedido do presidente da Guiana, David Granger, o Brasil se mostrou disposto a mediar a negociação entre a ex-colônia britânica e a Venezuela de Nicolás Maduro. O governo venezuelano, porém, não gostou de saber que a presidente Dilma Rousseff recebeu Granger em reunião bilateral no Planalto.

Para professora, tática de Caracas é clássica

O desconforto está sendo tratado com cautela. No Itamaraty, o assunto tem sido motivo de inquietação. Está centralizado, no entanto, no Palácio do Planalto – na mesa do assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. A leitura é de que Dilma, pouco vocacionada para esse tipo de atuação, teve o cuidado de pôr limites à volúpia de Maduro, preocupada com os danos que poderia causar na fronteira brasileira. O venezuelano, por sua vez, buscaria um assunto que desvie a atenção em relação à crise interna e que crie, utilizando-se de um tema externo, motivo para aumentar a própria popularidade interna – isso já foi feito e deu certo outras vezes.

É uma estratégia clássica. A instabilidade é grande na Venezuela. Muitas vezes já ocorreu de países nessa situação agirem assim para desviar a atenção. A Argentina fez em relação às Malvinas e a própria Grécia pôs na Alemanha os motivos da sua crise – diz Cristina Pecequilo, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e autora do recentemente lançado O Brasil e a América do Sul (Editora Alta Books, 292 páginas), em coautoria com Corival Alves do Carmo.

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