Fidel Castro, líder do regime cubano por 47 anos, morreu aos 90 anos nesta sexta-feira, 25 de novembro, em Havana, Cuba, adorado pelas esquerdas latino americanas, autointituladas de "progressistas", e elevando o ditador a um status quase sagrado....
Mas para realmente entender este "santo", é preciso fazer uma viagem à Cuba da década de 1950, pouco antes de Che e outros guerrilheiros comandados por Fidel Castro tomarem o poder.
Na década de 1950, a economia mundial se recuperava e o uso dos aviões a jato se difundia. O turismo de massa ganhou assim um belo impulso - e a ilha caribenha foi um dos primeiros destinos dos novos turistas americanos. A maior vantagem competitiva era a de ser um destino internacional a apenas 150 quilômetros dos Estados Unidos. Havia na época 28 voos diários entre cidades cubanas e americanas - e muitos americanos viajavam para Cuba de carro, por meio de um serviço diário de ferryboat a partir da Flórida.
Essa expansão dava dinheiro não só a mafiosos, prostitutas e marginais, mas também a donos de restaurantes, garçons, chefs de cozinha, guias de turismo, empresas de city tour, enfim, todos os trabalhadores e empresários envolvidos com o turismo. O crescimento levava mais cubanos à classe média e aquecia outros setores da economia, como a construção civil. Prédios e casas cheios de novidades arquitetônicas se espalhavam por Havana e atraíam atenção internacional. As cidades, onde vivia 66% da população, se beneficiavam ainda do dinheiro vindo da alta do preço da cana-de-açúcar, principal produto de exportação de Cuba.
O problema estava na política. O presidente Fulgencio Batista, depois de assumir o poder pela segunda vez, em 1952, passou a impor uma ditadura que tornou frequentes em Cuba os atos de tortura, o desaparecimentos de opositores e as prisões arbitrárias. Batista proibiu em alguns momentos a circulação de jornais, o direito de greve e retaliava empresários que não o apoiavam. Em resposta, estudantes, professores, advogados, padres e pastores protestantes montavam passeatas, distribuíam panfletos e agiam como "bombistas", nome dado às pessoas que espalhavam pequenas bombas em órgãos públicos.
Fidel Castro, então o mais conhecido inimigo do ditador, canalizou esse clima de descontentamento.
Ganhou apoio até mesmo dos grandes empresários e agricultores insatisfeitos com a instabilidade política, como os Bacardi, a mais tradicional família de empresários de Cuba.
Ao viajar para a cidade de Santiago, o jornalista americano Jules Dubois se espantou com o apoio de gente endinheirada aos rebeldes.
"Os homens mais ricos e proeminentes de Santiago, dos quais a maioria nunca se envolveu com política, estão apoiando o rebelde Fidel Castro como um símbolo de resistência a Batista", escreveu ele no Chicago Tribune. O apoio era possível porque os rebeldes pareciam a todos uma opção pela democracia.
O movimento rebelde que Fidel ajudou a fundar, o 26 de Julho, tinha entre seus participantes diversos políticos moderados e mesmo anticomunistas.
Fidel viajava aos Estados Unidos para arrecadar fundos para a luta política e negava veementemente ser comunista ou favorável a ditaduras.
No início de 1959, tanto os guerrilheiros moderados quanto os empresários e trabalhadores comemoraram a mudança de governo.
Graças a pressão exercida por estudantes revoltados, por soldados que lutaram na cidade e no campo, por empresários que financiaram ações rebeldes e por políticos, Fulgencio Batista enfim tinha sido deposto.
O ditador, depois de perder apoio dos Estados Unidos e vendo os guerrilheiros chegarem a Havana, fugiu com sua corte de avião durante o réveillon de 1959.
A maior parte dos cubanos saiu às ruas para festejar. Livre da tirania de Batista, a população estava ansiosa por participar da política e confiante para construir uma democracia.
Mas aquela jogada deu azar.
Logo após a queda de Batista, teve início um violento embate entre a classe média e o grupo de guerrilheiros que havia conquistado uma enorme popularidade lutando contra o exército de Sierra Maestra, uma região de montanhas no sudeste da ilha.
Sorrateiramente, os integrantes desse grupo, liderados por Fidel Castro, dominaram o governo provisório recém-instalado, expulsaram todos os que pensavam de forma diferente e declararam-se abertamente marxistas-leninistas.
Os aliados mais moderados e democráticos foram logo presos ou expulsos do país pelo próprio governo de Fidel.
Um dos principais revolucionários isolados pela nova ordem do 26 de Julho foi Huber Matos, até então amigo de Che.
Por ser contra a ditadura comunista que dava as caras, ele foi capturado pelos próprios companheiros e jogado em prisões, onde permaneceria por 20 anos.
Sem consultar a população ou mesmo a maioria de seus colegas, esse grupo de homens armados fez uma revolução comunista dentro da revolução democrática.
Ou seria uma contrarrevolução?
De qualquer forma, foi nesse momento que Che Guevara, um médico argentino que integrou o bando de rebeldes na Sierra Maestra, ganhou importância decisiva.
Para aqueles cidadãos de Cuba que trabalharam, tiveram ideias empreendedoras, arriscaram seu dinheiro em novos negócios, prosperaram com o turismo e a exportação de açúcar e lutaram pela democracia, o recado de Che era claro:
'Jurei ante um retrato do velho camarada [Josef] Stálin não descansar até ver aniquilados esses povos capitalistas'.
Diante de promessas como essa, não demorou para empresários, compositores, cantores de mambo, roqueiros e arquitetos irem embora de Cuba.
O novo governo logo limitou a liberdade artística e passou a perseguir hippies e roqueiros. Nos anos 60, o cantor e compositor Silvio Rodriguez foi demitido do seu trabalho no Instituto de Rádio e Televisão de Cuba por citar os Beatles como uma das suas influências. Ele continuou no país, resignando-se a cantar apenas inofensivas músicas tradicionais. Diversos jornais cubanos, identificados como perigosos reprodutores do imperialismo cultural americano, foram enviados para campos de reabilitação por tocar em bandas de rock e cometer atos tão imorais quanto o de andar pelas ruas de cabelos compridos.
Muitos jovens seguiram ouvindo rock às escondidas. Sintonizavam clandestinamente rádios americanas do Arkansas e de Miami - em volume baixo, para não causar problema. As bandas locais entraram na clandestinidade.
Os campos de concentração cubanos abrigaram todos aqueles que não se encaixavam na ideia de 'homem novo':
gays, católicos, testemunhas de Jeová, alcoólatras, sacerdotes de candomblé cubano e, mais tarde, portadores de HIV. (...)
O pensamento corrente entre os revolucionários, ideia que chegou a ser defendida num artigo de jornal pelo intelectual comunista Samuel Feijó, era a de que o homossexualismo em Cuba logo terminaria.
Afinal, o socialismo tinha o poder de 'curar comportamentos e doenças sociais'. Elementar.
É verdade que, nos anos 60, eram raros os países que respeitavam o direito dos homossexuais.
Mas em poucos lugares houve uma perseguição oficial de cidadãos por causa de sua opção sexual. Até gays favoráveis ao regime se deram mal".
Segundo o Arquivo Cuba, foram pelo menos 22 execuções na Sierra Maestra entre 1957 e 1958. Quase todas as vítimas eram membros do próprio grupo rebelde de Fidel Castro e Che Guevara - três acusados de querer abandonar o grupo, oito considerados suspeitos de colaborar com o exército e outros 11 mortos por cometer crimes ou por razões desconhecidas.
É claro que se pode questionar essas informações - talvez sejam só boatos, mentiras e intrigas daqueles cubanos que se viram em desvantagem com o golpe de Fidel Castro.
Do mesmo modo, há quem considere pura invenção os relatos de mortes e torturas cometidos pelos regimes militares do Brasil ou da Argentina.
Acontece que o próprio Che Guevara pregava a necessidade das execuções, dava detalhes sobre elas em seu diário e admitia as mortes em público sem o menor pudor. Além das declarações acima, há a mais evidente de todas.
Anos depois da Revolução Cubana, já guerrilheiro famoso com a tomada de poder em Cuba, Che rodou o mundo propagandeando o comunismo. Participou em 1964 da Conferência das Nações Unidas, em Nova York. Durante o discurso, disse:
'Fuzilamentos? Sem, temos fuzilado. Fuzilamos e seguiremos fazendo isso enquanto for necessário. Nossa luta é uma luta à morte'.
DADOS DA TRAGÉDIA CUBANA:
- 56.212 fuzilados no "paredón";
- 1.163 assassinados extrajudicialmente;
- 1.081 presos políticos mortos no cárcere;
- 77.824 mortos ou desaparecidos em tentativas de fuga pelo mar.
Total: 136.288 cubanos mortos pela ditadura de Fidel Castro.
"Morreu ontem o maior de todos os latino-americanos, o comandante em chefe da revolução cubana, meu amigo e companheiro Fidel Castro Ruiz...Sinto sua morte como a perda de um irmão mais velho, de um companheiro insubstituível, do qual jamais me esquecerei"
(Luiz Inácio Lula da Silva quando da morte de Fidel)
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